terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sobreviver não é viver

A vida é realmente simples e fascinante. Não há nada de complicado em viver. Não há problema se se é amado, tampouco quando se ama outro alguém ou até mesmo se esse amor é direcionado a si próprio.

Repetir que viver é simples é uma verdade absoluta, e poder desfrutar do que a vida tem a oferecer é uma redundância indispensável, que reafirma o quão simples é a vida. E se, às vezes, a vida se torna complicada ou problemática, certamente tem-se a quem culpar; e não pensem que a vida se sentará no banco dos réus, pois esse é um lugar a ser ocupado pelo próprio homem, que cria obstáculos, barreiras e problemas sobre o que diariamente tenta nos demonstrar ser tão simples, tanto é que não seria um exagero comparar a vida a um imenso mar, se não a um oceano de pura simplicidade, que é estranhamente afogado pelos pressupostos, egoísmo e preconceitos humanos.

Dizer que a vida é difícil ou árdua é um ato de grotesca leviandade. E se dia a dia somos telespectadores de desastres, crimes e catástrofes; não é a vida que devemos culpar, não é a vida que devemos atribuir adjetivações que remetem a dificuldades e tristeza, mas sim ao homem, que vem mostrando cada vez mais seu individualismo em suas atitudes destituídas de altruísmo e sabedoria; comportamentos sem nenhum pingo de amor pelo próximo e muitas das vezes nem mesmo a si próprio.

A simplicidade presente em uma suave palavra dita ao outro, na mão que é erguida com o intuito de ajudar, no se encantar com um fenômeno da natureza, no fino arrepio de saber que se vive e no simples se preocupar com alguém; mesmo que você não o conheça, não saiba de onde veio e nem aonde vai. Essa simplicidade - presente em tantos atos e que raramente pode ser vista, já que é ofuscada pelos atos humanos - vem sendo tragicamente substituída pelo que o homem denomina de estratégias de sobrevivência.

O viver foi deixado para trás e cedeu lugar ao sobreviver. E isso porque o homem não aceitou a oportunidade de simplesmente viver. Ele foi em busca de algo mais desafiador. Ele escolheu sobreviver.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Ilustre Desconhecido

Confesso que sempre pensei na possibilidade de escrever um livro. E é verdade que já tenho feito simples poemas, alguns contos cheios de metáforas, paradoxos e até mesmo uma quase longa história de amor mal correspondido. Contudo, nada tão vivo ou fascinante quanto um verdadeiro livro, desses que nos fazem mergulhar e viajar a cada página lida.

Acredito que para escrever, é preciso ter experiência; uma experiência que creio ainda não possuir, mas que certamente um dia a alcançarei. Pelo menos é o que faço - tentar alcançá-la.

Quando escrevo algo, dificilmente o permito existir por muito tempo e nem me dou à oportunidade de dar prosseguimento aos meus pensamentos - esses ventos de palavras, que se unem e vão aos poucos ganhando sentido.

Agora, não me perguntem por que os rasgo ou os abandono no misterioso e curioso fundo do cesto de lixo, que guarda em seu interior os erros humanos; erros que ofuscam a tentativa do acerto, assim, não sendo inteiramente merecedores do seu trágico destino.

Porém, para não deixá-los no poço da angústia e da curiosidade de compreender o porquê do meu estranho ato, admito que os sentidos que minhas palavras ganham são particulares, tão particulares, que se tornam confusos até mesmo para mim; assim - sem compreender o que eu próprio escrevo - rasgo-o, desfaço-o; e certamente, aniquilo também o mais secreto de mim - o indiferente. Um ilustre desconhecido, que raras vezes se manifesta, mas que não consigo identificar.