sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Se for francês...

Jean era um francês careca, de baixa estatura e dono de um físico fora dos padrões impostos pela mídia. Nem mesmo o fato de dominar o idioma do amor, o que era óbvio, atribuía-lhe charme e elegância.

Em 2011, Jean mudar-se-á para o Brasil, mas precisamente para o Rio de Janeiro.

Certamente, ele havia lido algo sobre o Rio do século XIX.

Nordestinos

Pedro Silva e Silva. Brasileiro natural do estado do Maranhão. Sotaque é o que nega de pés juntos ter. "Não canto quando falo, tampouco tenho cotovelos ralados pela base da janela!".
Assim que chegou a São Paulo para tentar vida nova, Pedro foi chamado de baiano.

Esperanças de melancia

Maria sempre apreciou rituais de fim de ano, mesmo sabendo que durante o ano todo não seria reforçada. Seus meninos também guardavam ainda consigo um pingo de esperança, mas as uvas eram caras, portanto, seriam poucos os caroços. Não haveria esperança para todos.

Para pular sete ondas, a família gastaria muito e de quebra ainda teria que andar alguns quilômetros na volta para casa, pois a praia ficava em um extremo e a casa de Maria era o próprio extremo. Extremo de pobreza, mas também de amor.

(...)

Antes de comprar as poucas uvas, Maria se permitiu ser invadida por alguns questionamentos. Compraria uvas e secaria a esperança das crianças? A sua esperança não poderia ser também a de seus filhos? Haveria realmente esperança em pequenos caroços de uva verde?

Foi então que Maria avistou uma melancia. Redonda, grande, verde e certamente farta de caroços. Havia ali esperanças para um batalhão. Esperança até demais, pensou. Diante de tanta glória, Maria não se permitiu pensar em nada mais. Em seguida, tirou o pouco de dinheiro que havia nos bolsos e ainda anestesiada de alegria deixou cair algumas moedas. O ato de recolher as moedas do chão úmido do mercado foi uma boa oportunidade para que pudesse sorrir consigo mesma sem ser tachada de louca.

Maria estava feliz, porque sabia que as crianças também ficariam felizes.

Maria sabia que havia quebrado o ritual, mas também sabia que havia salvado as esperanças.

Caroços de uva

Em meio à contagem regressiva, Ana se deu conta de que caroços de uva eram pequenos demais. Seus sonhos eram maiores que qualquer caroço em potencial. Mesmo assim, ela se armou com um dos maiores que conseguiu encontrar: um caroço de manga! Ana só não esperava que depois do ritual com os caroços teria que rolar sete ondas de um jeito tão involuntário e brutal. Ana havia atingido Ivete, a encrenqueira da Litorânea.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Escrever...

Escrever não é tarefa fácil. Escrever nem é tarefa; é exercício.
Escrever exercício leva um pouco de tempo, pelo menos para ser escrito corretamente.
Escrever é conectar não palavras ou letras, mas ideias.
Escrever é ser coerente, corrente. Ser fluido até perder a coerência.
Escrever é falar sutilmente. Sutis ruídos da ponta da caneta ou do lápis em atrito com o papel, de preferência sem pauta, pois linhas exalam regularidade.
Escrever torna possível a união de ideias. Ideias sobre o mundo.
Ideias são expressas em palavras, mas também em gestos e ações. Ideias podem quebrar ou manter a regularidade aparente.
Escrever é a expressão de uma ideia; expressão silenciosa que só ganha vida, ou melhor, voz quando alguém lê o que está escrito. Há voz até em silêncio!
Escrever é uma ação. Ação de mão curvada. Polegar, indicador e médio. Vizinho e mindinho. Cerebelo.
Escrever, escrever, escrever não significa ler, ler, ler. Pois nem tudo o que foi um dia escrito será lido, (in)felizmente.
Escrever é digitar com 08 ou apenas 01. 10? Não! Os polegares foram para o espaço! Espaço vazio que evita o cheio, o amontoado, o incompreensível.
Escrever pode ser pontilhar. Ler pode ser tatear.
Escrever pode até ser péscrever!
Superação! Super ação! Super escrever!