sábado, 15 de agosto de 2009

Sempre Exclusiva


Vendo vídeos antigos de Clarice Lispector, que nem por isso deixam de ser exclusivos, senti por um instante a explosão do orgulho de ser leitor assíduo das obras que a tornam a cada página, quando não parágrafo, imortal.

Impressionou-me ver sua simplicidade, objetividade e coragem de dizer não a uma pergunta ou até mesmo, ao afirmar que para algumas coisas não há resposta "é segredo!", como por exemplo, o momento em que o homem se depara com a tristeza e a solidão em sua vida.

Tímida e ao mesmo tempo ousada, como ela mesma afirma ser, Clarice de início parece não corresponder às expectativas, a ponto de perguntarmo-nos se ela realmente foi capaz de fazer brotar histórias tão magníficas como a da inesquecível Macabéia e a do misterioso Martim. Mas, é justamente aí que passamos a entender que a sua timidez, somada ao problema de dicção - em um primeiro instante - camuflam a ousada Clarice, que não se intimida ao dizer que nem ela própria, às vezes, não conseguia entender o que escrevia, como em O ovo e a galinha que para ela continuava sendo um enigma.

Sem objetivo específico quanto ao público que queria atingir, Clarice revela ser caótica, intensa e fora da realidade, além de não se considerar profissional, uma vez que queria ser livre em suas criações.

Quando não escrevia considerava-se morta, e a cada obra finda, ou melhor, a cada período morta, via-se necessitada de um tempo para poder concatenar histórias. E, assim, ao fim de uma de suas novelas decide direcionar-se a literatura infantil e comenta que ao escrever para crianças sentia facilidade por ter um grande lado maternal, mas ao direcionar-se ao adulto ela encontrava-se com o mais secreto de si mesma.

Clarice que em suas leituras misturou todos os gêneros e estilos e que por isso acabou por não saber e, talvez, não entender os principais princípios e autores de sua formação, afirma também que por ódio e raiva muitas vezes rasgava seus escritos, pois estava cansada de si mesma. Ao ser indagada a respeito de seus renascimentos, disse que no momento estava morta e esperando para ver se renascia novamente.

Por fim, acredito que essa mistura de autores e, consequentemente, de visões de mundo, as quais ela se refere ao fim da entrevista, talvez tenham sido essenciais para que Clarice se tornasse uma das, se não a maior escritora Brasileira -"sou Brasileira e pronto!"-, que apesar de ausente fisicamente, deixou para a humanidade um tesouro imensurável que atrai gerações de leitores apaixonados por sua escrita modestamente auto-definida como simples.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Futuros de um País

Ápice da metade do dia, e a rua, que havia sido interditada para pavimentação logo pela manhã estava quase deserta, isso, porque transeuntes, que em sua maioria eram estudantes, caminhavam em direção ao ambiente do saber, e forçados ou por vontade própria eram obrigados a enfrentar o tilintar do raios de sol e o torpor dos ventos, que neste período do ano eram praticamente escassos.

Uns caminhavam com visível rapidez, outros pareciam não querer chegar ao seu destino. E o fato de tanta lentidão, talvez fosse para que não encharcassem os uniformes de suor; ou para dialogar o suficiente com quem estava do lado; ou para apreciar uma música - nem sempre tão boa - naqueles modernos aparelhos, que há gerações nem faziam parte da imaginação.
E, enquanto o atordoante sinal não fazia o seu chamado, alguns deles buscavam uma sombra, ora para continuar a conversar, ora para descansar o longo percurso feito a pé e até para passar toda a tarde, com a desculpa de que seriam poucas aulas e o professor não era lá tão agradável, como se fosse novo que de grão em grão..., e que em cavalo dado se pudesse olhar o rabo.

[...]TrEIiiimmMmM..., além de atordoante ainda era excêntrico o sinal escolar. Talvez esse fosse o motivo pelo qual tantos alunos sentissem tamanha aversão e acabassem por fazer trajeto inverso às salas de aula [...].

Maturidade

Quem um dia não acreditou ser imortal ou imbatível?
Quem um dia não pensou ser capaz de voar ou atravessar paredes?
Quem um dia não imaginou ser um bruxo do bem ou um herói?
Quem um dia não foi criança e viveu curtos períodos de sonhos e desejos irreais?
Quem um dia não teve que despertar do sonho e, infelizmente, enfrentar a realidade?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Passado Inexistente

Marília entra em seu quarto e vai em direção às janelas. Ao abri-las, fixa o seu olhar no céu, e contemplando a luz da lua e o magnífico emaranhado de estrelas, sente a leve e fria brisa de uma noite de inverno. Ao longe, ouve uma suave música e levada pela combinação dos mais delicados sons, cria em sua mente momentos de alegria que não viveu.

Subitamente, a brisa, antes calma, ganha extraordinária força a ponto de fechar a porta com tamanha violência e despertar a triste e doce Marília de sua longa viagem ao passado inexistente.

Logo após ouvir os fortes ruídos da porta, o mordomo da mansão sobe as escadas e chega ao canto de refúgio da pequena Marília. Ao entrar, encontra-a aos prantos e tenta acalmá-la. Depois de muitas lágrimas escorrerem pelo seu rosto angelical, Marília confessa que sua tristeza é por saber que toda sua fortuna não lhe trouxe a felicidade, mas sim a solidão.

Sorte?

Há pessoas que têm muita sorte, ou pelo menos, acreditam tê-la
Há outras, coitadas...! que nem sabem o que é a sorte
Há algumas que dizem brincar com a sorte
Há também as que já não acreditam em sorte
Há aquelas cuja obsessão é a sorte
Há outras que têm tanta sorte que nem imaginam o tanto que a possuem
Há as que de tanta sorte, nem parecem ser sortudas
Há quase nenhumas que não dependem de sorte, mas quando ela [a sorte] surge, agarram e aproveitam-na de todas as formas, e são, exatamente essas, as verdadeiras pessoas de sorte.