Sempre que se perde algo e, logo em seguida, se culpa alguém, esse algo incrivelmente aparece, deixando o leviano atribuidor de culpas com pudico rubor.
Na inocente tentativa de ter de volta o que acreditava um dia ter sido
meu - sem me importar se, em seguida, a vergonha e a arrogante teimosia me deixariam sem
coragem de nem ao menos pedir desculpas - passei a culpar as outras pessoas por objetos perdidos, objetos que eu mesmo (in)conscientemente havia perdido.
Veio-me então a brilhante e pecaminosa ideia de culpar Deus por minha origem perdida e desconhecida, mas esse meu algo impossível nunca apareceu. E talvez encontrar "o princípio" não seja mesmo tão prazeroso e confortante quanto descobrir que os seus óculos perdidos sempre estiveram, na verdade, bem embaixo do seu nariz, ou melhor, em cima.