sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Esperanças de melancia

Maria sempre apreciou rituais de fim de ano, mesmo sabendo que durante o ano todo não seria reforçada. Seus meninos também guardavam ainda consigo um pingo de esperança, mas as uvas eram caras, portanto, seriam poucos os caroços. Não haveria esperança para todos.

Para pular sete ondas, a família gastaria muito e de quebra ainda teria que andar alguns quilômetros na volta para casa, pois a praia ficava em um extremo e a casa de Maria era o próprio extremo. Extremo de pobreza, mas também de amor.

(...)

Antes de comprar as poucas uvas, Maria se permitiu ser invadida por alguns questionamentos. Compraria uvas e secaria a esperança das crianças? A sua esperança não poderia ser também a de seus filhos? Haveria realmente esperança em pequenos caroços de uva verde?

Foi então que Maria avistou uma melancia. Redonda, grande, verde e certamente farta de caroços. Havia ali esperanças para um batalhão. Esperança até demais, pensou. Diante de tanta glória, Maria não se permitiu pensar em nada mais. Em seguida, tirou o pouco de dinheiro que havia nos bolsos e ainda anestesiada de alegria deixou cair algumas moedas. O ato de recolher as moedas do chão úmido do mercado foi uma boa oportunidade para que pudesse sorrir consigo mesma sem ser tachada de louca.

Maria estava feliz, porque sabia que as crianças também ficariam felizes.

Maria sabia que havia quebrado o ritual, mas também sabia que havia salvado as esperanças.

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