sexta-feira, 11 de março de 2011

Próxima parada

O ônibus estava extremamente lotado. Apenas os passageiros sentados, e em conforto parcial, somavam o número indicado pela placa vermelha de letras e números brancos. Aqueles que em pé se encontravam nem sequer precisavam se segurar nas barras, pois diante de qualquer freada, mesmo brusca, não havia para onde cair. Newton certamente se veria obrigado a reformular sua primeira lei, caso tivesse tido tempo de viajar num ônibus como aquele.

Além de desconfortante, a viagem era longa. E se tornava ainda mais longa a cada metro percorrido e a cada atitude folgada de um passageiro nonsense. Porém, nada disso era mais desconfortante e assustador do que colocar, de forma involuntária, o polegar sobre um botão em que a palavra PARE se encontrava impressa. Ali estava mais que uma palavra. Ali se encontrava um símbolo que poderia representar uma parada sem motivo; uma parada capaz de atrasar ainda mais uma viagem de volta ao lar, um beijo ou um abraço de saudades. E ali estava também o exemplo de que a involuntariedade poderia sim se transformar em um ato voluntário cheio de culpa.

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