terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Insetos

Bastava que um daqueles minúsculos insetos pousasse em qualquer parte de seu corpo, para que Gino desconfiasse da validade de seu segundo banho do dia.

A vontade que tinha era de levantar os braços e se cheirar. Cheirar o corpo todo como um cão. Seria tão bom ser um cão em momentos como esses. Afinal, cães não precisavam mostrar nada a ninguém, muito menos abster-se de suas vontades.

Apesar do desconforto e do medo de que estivesse chamando a atenção, Gino observou que as pessoas ao redor pareciam não estar sentindo cheiro algum e aparentavam também não perceber suas tentativas, todas sem sucesso, de expulsar os visitantes indesejados. Talvez estivessem apenas fingindo, e nisso eram profissionais.

Gino balançava a cabeça como se ouvisse: "Não faça movimentos bruscos!". Mantinha os braços colados ao corpo na tentativa de evitar que o odor aparente pudesse escapar. Gino havia se tornado uma estátua, e se a viagem fosse mais longa e ônibus fossem conversíveis, certamente pombos teriam pousado em seu ombro e feito suas necessidades fisiológicas. Pombos não fariam isso de propósito é claro, e jamais falariam necessidades fisiológicas.

Quando chegou ao seu destino, Gino se deu conta de que não havia cheiro algum. Nenhum fedor! Tudo tinha sido apenas uma fatalidade. E fatalidades costumavam pousar em seu corpo, sobretudo, em verões travestidos de pseudoinverno.

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