domingo, 2 de janeiro de 2011

Milagres existem

Bebia água como se estivesse de ressaca, mas nunca havia colocado uma gota de álcool na boca. Evitava até perfume.

Era o primeiro domingo do ano. As ruas ainda estavam desertas, mas Atécio estava de pé, a caminho da igreja. Apenas o ar o acompanhava. E o ar era Deus.

De repente, Atécio - que era saudável como um atleta - foi atingido por um defunto que estava marcado para morrer de cirrose. Atécio não teve mais fé nem mesmo para dar um último suspiro, mas em seus olhos meio abertos e meio fechados estava estampada uma admiração: a não sobriedade sempre mira os bons.

Apesar da infelicidade, parecia que aquele homem esparramado no chão havia visto um milagre. Era como se mirar sem ter reflexos fosse tão inacreditável quanto andar sobre as águas.

Atécio havia perdido a vida sem ter sido abençoado.

Atécio havia perdido a missa.

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