Ana não era Ana, era Bárbara. Porém suas condições de saúde não permitiam que a chamassem por seu nome de registro. Ana, anA, Ana... Seus dias estavam sendo como seu nome. E sua bravura já havia expirado há muito. Mas ainda era possível notar que existia um pingo de esperança em seu sorriso fino. Ela não tinha forças para praticamente nada, apenas para virar levemente o rosto em direção a tv. Novelas pareciam ser ainda uma de suas únicas alegrias.
Assim que chegou a cidade, Ana foi imediatamente submetida a uma bateria de exames. Exames apenas. Imediaticidade era o que realmente não se podia esperar dela. E sua bateria parecia já estar em um daqueles simbólicos minutos de silêncio, à espera de uma marcha fúnebre. Mas embora as chances da insurreição de Bárbara fossem poucas, era preciso manter os pingos de esperança encharcados para que muitos rostos não se tornassem úmidos mais tarde. Era preciso fingir que os pingos eram de tempestade, e não de garoa.
Entre os milhares de pontos pretos estava: VOCÊ TEM ALGUM TIPO DE ALERGIA? Lê-se ALERGIA, mas por descuido se leu ALEGRIA. Em seguida, todos em volta começaram a gargalhar, pois todos em volta sabiam que não havia ALEGRIA em Ana. Todos em volta de Ana riram de sua falta de graça. E um desgraçado era alguém em que a graça faltava. Mas Ana não era uma desgraçada, apenas não tinha graça. E até ela mesma sorriu de sua falta de motivos para sorrir. Ana achou graça onde não havia. Ana achou-se sem nem sequer ter achado a graça da Bárbara que havia perdido.
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