quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Além da Onomástica

Pronunciava uma mesma palavra repetidas vezes. E não importava quão simples e rotineira tal palavra fosse, ela sempre perdia seu significado. Era inevitável. Imagem e ideia sempre se desencontravam num vazio abstrato, que o assustava e o fazia sorrir como se não tivesse dentes. Era então preciso, mais uma vez, recorrer ao dicionário de bordas já escurecidas, bem escurecidas.

Era comum também que, além das palavras, ele mesmo se perdesse. Criava ondas no ar através das inúmeras letras de seu nome. Nove letras eram demais para uma pessoa só, mas unidas tornavam-se mais próximas de seu tamanho real. E real não era realidade, nem tampouco realeza. Real era o que nem conhecia ainda, porém era o que tentava desvelar através de seus solilóquios diários. Aliás, falar sozinho já havia se tornado um problema. Quem o visse o chamaria de louco. Durante a noite, pensar se transformara em pensônia (pensamentos + insônia)! Porém ele sabia que pensar era necessário. Afinal, livros com nomes de bebês não podiam ser tidos como dicionários humanos.

Sabia também que uma pessoa nunca poderia ser apenas um nome. Ele era além de um nome e sobrenomes. Não era ilustre, apenas desconhecido. Não era de uma família bastarda, era apenas amado. E o amor era [é] tudo. Ele não era um nome e sabia que quem se deixava medir por um simples nome, não se dava oportunidades de se conhecer por completo. Quem se deixava medir por um nome, não era ninguém. E Deus era a prova disso.

Um comentário:

  1. Nome não define, nome não conceitua. Pode até ser referência, pensei, mas não pertence a ninguém, isso eu sei.
    Tem intenção, tem esperança, mas nem sempre chega lá. Independente, entre casos e acasos, meu nome é singular.
    Meu nome? Não tem sentido, menos ainda uma ligação comigo. Nada mais que uma palavra arbitrária que o vento nos trouxe. Veio assim, sem mais nem menos, mas veio na hora certa, pois se não fosse esse, imagine o que haveria de ser!
    Meu nome nome não me limita, isso eu não permito. Sou mais que isso, não sou anônima e nem mais uma Maria. Sou eu. É o bastante por enquanto, me contento com ele.
    E realmente, estamos além da Onomástica =)

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