Caetano viu Chico pela primeira vez antes das festas de fim
de ano. Mas, a princípio, nada passou apenas de uma inocente e talvez até
casual troca de olhares entre passageiros de um transporte coletivo.
No novo ano, Caetano voltou a ver Chico, de novo sentado no assento da janela, dessa vez sem ninguém ao seu lado. Houve então nesse dia mais que um olhar, pelo menos foi essa a impressão de Caetano. Como num ato de bravura e coragem, logo que passou pela catraca, Caetano respirou fundo e se sentou ao lado de Chico. Porém, durante pouco mais de quarenta minutos, os dois permaneceram no mais completo silêncio.
No novo ano, Caetano voltou a ver Chico, de novo sentado no assento da janela, dessa vez sem ninguém ao seu lado. Houve então nesse dia mais que um olhar, pelo menos foi essa a impressão de Caetano. Como num ato de bravura e coragem, logo que passou pela catraca, Caetano respirou fundo e se sentou ao lado de Chico. Porém, durante pouco mais de quarenta minutos, os dois permaneceram no mais completo silêncio.
O tempo passou e Caetano pensou que nunca mais teria a sorte
de ver Chico novamente. Até que um dia, sem se dar conta e desviando de outros
passageiros para chegar até o fundo do ônibus, Caetano se viu de repente diante
de Chico, sentado dessa vez no assento do corredor e com uma desconhecida a lhe
fazer “companhia”. Eles se olharam e, mais uma vez, não trocaram sequer uma
palavra. Porém, Chico, ao selecionar as músicas que iria ouvir durante aquele
trajeto, deixou, "possivelmente" de modo involuntário, que Caetano bisbilhotasse o
seu gosto musical. Havia MPB, The Lumineers e até Katy Perry. Caetano então sorriu de alívio e, sobretudo, alegria.
No dia seguinte, o excesso de calor humano, daquele que só
gera incômodo, não permitiu que Caetano ficasse próximo do seu mais novo objeto
de admiração. Dessa vez, Caetano viu Chico desembarcar sem ter tido a chance de
viver a adrenalina que é tentar descobrir se existe ou não correspondência numa
paixão.
O outro dia também não foi agraciado pelas boas conspirações
do universo. Contrário à manhã anterior, o ônibus estava vazio; havia inclusive
assentos vagos, mas nenhum deles era ao lado de Chico. Naquele dia insistir
em ficar perto dele pareceria muito estranho, um tanto persecutório. E sem
alternativas favoráveis, Caetano apenas o divisou com olhos tristes e se
encaminhou para os assentos vagos e distantes.
Os dois dias seguidos de azar, contudo, fizeram com que na
quinta-feira uma nova oportunidade surgisse, como uma flor de ipê amarelo que brota,
retardatária, bem no finzinho da estação. Caetano, mais uma vez, pode se sentar
ao lado de Chico. Era agora ou nunca! E num ímpeto incomum de “agora”, Caetano
abriu o livro que carregava em mãos e dele retirou um bilhete cor-de-rosa, no
qual havia escrito, desde a última segunda-feira, “gostei da sua play list!”.
Chico leu o bilhete e pediu uma caneta a Caetano, que logo lhe ofereceu papel também, do mesmo com o qual havia escrito a sua mensagem impetuosa. Apesar do balouçar do coletivo, Chico escreveu rapidamente e, em seguida, devolveu a caneta e entregou sua resposta a Caetano, que não conseguia esconder o quanto estava ansioso e esperançoso. Com espantosa calma, Caetano desfez a dobra do pedaço de papel e o leu. Contudo, no bilhete de Chico estava escrito: “obrigado. você é gentil. já tenho namorado.”.
Chico leu o bilhete e pediu uma caneta a Caetano, que logo lhe ofereceu papel também, do mesmo com o qual havia escrito a sua mensagem impetuosa. Apesar do balouçar do coletivo, Chico escreveu rapidamente e, em seguida, devolveu a caneta e entregou sua resposta a Caetano, que não conseguia esconder o quanto estava ansioso e esperançoso. Com espantosa calma, Caetano desfez a dobra do pedaço de papel e o leu. Contudo, no bilhete de Chico estava escrito: “obrigado. você é gentil. já tenho namorado.”.
Após ter lido a mensagem de Chico, Caetano ainda o olhou outra
vez, mas apenas para lhe dizer um falso “tudo bem!”, que foi correspondido com
um suave e doce sorriso. Caetano até imaginou fitá-lo novamente e lhe dizer “mas
namoros acabam...”. No entanto, o que Caetano fez foi aproveitar o livro ainda
aberto e simular uma atenciosa leitura; na verdade, compartilhar seu recente sofrimento
com os do também sofrido Werther.
O fim da aventura de Caetano não foi como ele esperava,
embora ele tivesse se sentido muito bem por ter feito o que fez. Sentia orgulho de si mesmo, satisfação. Caetano
nunca pensara que levar um fora pudesse ser, de certa maneira, uma experiência agradável.
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